E NOVAMENTE ELE CHEGOU COM INSPIRAÇÃO DE GOL.

Naquela tarde plúmblea de primaveira, de repente, não mais que de repente, materializa-se na na Praça Santos Dumont um personagem estranho. Seu semblante espelha uma dignidade cardinalícia. Seu olhar traduz a aparência de quem carrega sobre os ombros uma responsabilidade messiânica.

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Ao vê-lo, todos perguntam:
Quem é? Que traje ele veste?

Alguns gaiatos responderam em coro:

"É toga, é beca, é o fim do caminho,

É um capelo ou uma touca, é um louco sozinho."

A verdade é que, diante de tantas dúvidas, talvez nem ele mesmo soubesse mais quem era.

Para uns era um magistrado norueguês (dizem que na Noruega magistrado sai às ruas). Logo, porém, entendidos em viquingues atalharam afirmando que magistrado de país nórdico não usa capelo adornado com pele de coelho.

Seria, então, um galeno, quiçá um andrologista ? Certamente não. Apesar do dedo em riste, galeno não se veste de preto.

Outros suspeitaram tratar-se de um bacharel em qualquer coisa. Afinal, no Rio de Janeiro há uma faculdade em cada esquina . Logo, bacharéis não faltam.

Ocorre que seus gestos eram por demais firmes, a demonstrar um profissional experiente, nunca um bacharelando.

Foi aí que, pousando a mão direita sobre o ombro do Mauro, que não parava de atender à multidão de clientes que telefonavam ininterruptamente, o personagem falou pela primeira vez, em alto e bom som:

Quod abundat non nocet !

Imediatamente, antes que o Mauro reagisse, outro entendido que passava pelo local, desta vez um pretenso entendido em línguas, matou a charada esclarecendo:

"- Ele falou latim e de latim eu manjo um pouco. Traduzindo para o português, acho que abundat significa rábula. O homem tá expricando qui é adevogado minha gente, mas cuidado que ele deve di sê adevogado de acusação."


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